PARA VIVER A GRANDE DOR
Aquela coisa inventada , embalada em papéis lustrosos,
Dizendo e redizendo o valor inteiro da vida,
Às vezes cortada em pedaços,
sangra incessante na grama verde da noite e da manhã!
Na tarde, isenta, morna ou em intenso sol,
Ela se cala e dorme com os pés descobertos,
mas com os ombros cingidos de seda azul.
Depois tudo acorda,
ela puxa água do poço,
Asperge as plantas caseiras
e tenta sombrar o quintal.
É quando tudo acontece!
O amarelo da tarde acalma o olhar,
Mas, cumprido o todo do dever,
As letras embaralham o sentido.
E a oração sussurra nuvens
E gestos rasgados.
Logrado ou malogrado, o tempo se faz
Retorcido no relativo do cheiro e cor cercados de dia.
Por isso ela canta,
por estar a vida incompleta,
Por saber que a terra acolhe
sombras ácidas.
As luvas isolam o mal e a culpa
Que se escondem argutos
no fundo do poço
cantante.
Ela habita o instante!