Eu olho para você

Eu olho para você

E me vêm como que serpentes me passando pela alma,

Rastejando pela superfície vermelha de meu coração aquilo que elas não podem dizer...

Eu olho para você

E fecho os olhos mentalmente,

Que se abrem para infinitos de infinitos claros-escuros, e vivos,

Que morreriam sob qualquer grunhido...

Eu olho para você e a leveza me toma...

Como incorpóreo,

eu sinto a dinâmica alucinante das metamorfoses das formas,

das coisas, passando de uma para outra,

Ora em silêncio profundo,

Ora em gritos insanos de delírios infindos...

Eu olho para você e meu ser se encontra,

Como o pintor que encontrou o modelo perfeito,

Como o poeta que escreveu o ritmo divino,

Como o louco que estabeleceu, com sua loucura, a comunicação suprema...

Eu olho para você e todas as estrelas se apagam,

Todas as tempestades se acalmam,

Todas as flores murcham,

Todas as cachoeiras evaporam,

Todas a mortes cessam,

E tudo nasce,

Como se a humanidade inteira estivesse dando o primeiro choro dentro de mim...

Ah, tantas coisas você põe em meus olhos,

Querida,

Que nem mesmo este imenso abismo aqui

É capaz de as abarcá-las.

Elas transbordam,

E formam a luz,

E formam a antimatéria,

E formam a matéria escura,

Carente de entendimento,

Como isso que carrego,

Como lágrimas, que vazam de dentro por não haver mais lugar para elas...

Eu canto uma canção no meio de toda noite!

Sebastião Alves da Silva
Enviado por Sebastião Alves da Silva em 26/05/2017
Reeditado em 26/05/2017
Código do texto: T6010248
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