COMO SE FOSSE UMA VESTAL 

Poderíamos ver nela 
uma esotérica vestal 
a julgar pela nívea túnica 
impoluta 

Mas é apenas uma flor 
ao ar livre 
no canto de uma vereda 
em fins de verão 

Olho para ela com ternura 
e descontraída 
ela não me diz quantos dias 
nem quantas horas ficará por ali 

Só sabe 
que esta é a sua hora 
a hora do sol 
seu senhor 
que a ilumina por dentro e por fora 
e lhe dá a infinita vida que tem 

Ela está firme 
bem sustentada 
no caule de origem 

Em pleno intervalo matutino 
a brisa 
animando seu corpo bailarino 
transforma-a 
numa quase vestal 
exibindo 
as origens divinas de seu ser 
e legando aos mortais espetadores 
o simples gesto 
da frágil imagem de seu tronco senhoril 
tão fundamental 
no incrível bailado do mundo. 

Jan Muá 
Espaço Norte, Brasília, 20 de abril de 2017