QUERO
Quero algo que me fale que viver é natural e fácil,
Que as manhãs trarão o dia e as tardes, a noite.
E que haverá estrelas e cheiro de jasmim.
Que, para comer, basta estender a mão
e o fruto lhe cairá maduro!
Para chorar, basta olhar o ocaso
E a luz lhe cantará a música!
Que, para criar os filhos, basta amar de amor
E as crias crescerão em risos!
Que, para respirar a vida inteira e farta,
Basta ficar a dormir, a acordar, a pôr em qualquer chão
O pé nu e os braços abertos, o rosto lavado
De água colhida do poço.
Quero algo que me absolva da idade caminhada,
Dos sentidos adormecidos,
Dos sentimentos entorpecidos,
Das mãos sempre cruzadas.
Quero essa falta de emoção
Que reduz tudo a nada e
Que diz que o nada é tudo.
E vestir-me dessa roupa justa, própria,
Sem venenos.
Quero.