O BÊBADO
Emerge um bêbado de porta adentro
E eu, sóbrio, o vejo sujo e maltrapilho
A se arrastar no meu apartamento...
"Diga o que foi! O que tu queres, filho?!"
Eu não contei, mas este ébrio estranho
Provém do ventre de minha ex-mulher,
E, apesar de todo o seu tamanho,
Eu nunca dei a ele um pão sequer!
Sim, é meu filho... é o filho do passado
Que eu enterrei no esquecimento, e agora
Que no aposento estou acomodado
Bate-me à porta, bêbado, essa hora...
E, estando velho, sinto neste instante
Que foi na vida o que eu senti pior!
E o olhar pergunta ao bêbado purgante
"Por que, meu filho, que eu deixei-te só?"
Ele, porém, não me responde, sinto
Somente as mãos a me pedir ajuda,
Passo a negar-lhe o meu olhar sucinto,
E a dor mantém a minha boca muda.
Meu pobre filho... O pus em minha cama,
Ele me olhou feliz, embriagado,
A roupa suja, o pé coberto em lama,
Forçou sorrir e disse-me "obrigado!".
"O que faltou-te, filho? Eu te darei!
Diga ao teu pai como te socorrer!"
Porém, fechando as pálpebras, notei...
No meu colchão meu filho vi morrer!
Foi para isso que Deus te mandou?
Para pagar à mãe teu santo berço...?
Ela viu os teus passos, te criou,
Viu-te nascer e eu vejo o teu inverso!
Vejo o teu fim, e, em parte, o meu escrevo!
Todas as pedras de dor quebram meu muros....
É que esta vida me cobrou com juros
Centavo por centavo que te devo!