SEMPRE QUE ESCREVO

Sempre que escrevo, morre alguém no mundo...

E eu sinto a fundo que isso seja um bem...

Minha caneta tem poder de corte,

Cheiro de morte... Escrevo, morre alguém!

Todos os dias firo em cor as linhas

São todas minhas... O sepulcro eu pago!

Minha caneta é um vômito de choro,

Ave de agouro, e serve-me de afago!

E quem dizia que nada eu fazia...

Ah! De hipocrisia sinto odor funéreo!

Todos os corpos de uma vida sanha

Provém de entranhas já do cemitério!

O que consola é que entre tantas vidas

Interrompidas graças a meu termo,

Não vi parar o coração de "santo"...

Não vi, portanto, algum cristão enfermo!

São todos dignos de ser fantasmas,

Somente asmas do pudor mundano...

E cada um dos que partiram leva

Lá para as trevas o mal deste plano!

E aqui eu fico, na missão que acato

Lavando os pratos secos de saliva...

Neste aposento a mão escreve calma,

Lá outra alma deixa de estar viva!

Jackson Viana
Enviado por Jackson Viana em 08/02/2017
Código do texto: T5906082
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