SEMPRE QUE ESCREVO
Sempre que escrevo, morre alguém no mundo...
E eu sinto a fundo que isso seja um bem...
Minha caneta tem poder de corte,
Cheiro de morte... Escrevo, morre alguém!
Todos os dias firo em cor as linhas
São todas minhas... O sepulcro eu pago!
Minha caneta é um vômito de choro,
Ave de agouro, e serve-me de afago!
E quem dizia que nada eu fazia...
Ah! De hipocrisia sinto odor funéreo!
Todos os corpos de uma vida sanha
Provém de entranhas já do cemitério!
O que consola é que entre tantas vidas
Interrompidas graças a meu termo,
Não vi parar o coração de "santo"...
Não vi, portanto, algum cristão enfermo!
São todos dignos de ser fantasmas,
Somente asmas do pudor mundano...
E cada um dos que partiram leva
Lá para as trevas o mal deste plano!
E aqui eu fico, na missão que acato
Lavando os pratos secos de saliva...
Neste aposento a mão escreve calma,
Lá outra alma deixa de estar viva!