NEGRA FLOR

Talvez não saibas,

Mas voltarás à clareira da encosta,

Dentro do tempo embrulhado em tormenta,

Ao círculo plano, liso, perfumado, florido.

E um véu estrangeiro cobrirá tua boca, teus olhos,

Mãos tatearão o romper da música!

Do escuro, os brilhos do mistério fulgurarão;

Do silêncio, os estalidos do fogo crescerão;

Do inerte, os aromas rescenderão;

Do pensar, os alicerces da realidade crescerão.

No tato, o doce recato...

E do quase, quase todo,

Ressurgirá o engodo de teu entender que não sente

O duro raiar de um só dia!

A natureza revolta invocará a nascente

E o logo, o quase agora, o somente...

Retirarão da terra infecunda

a doce e negra flor dormente.

Para hoje, para já, a vez que reclamará

a voz unida do sim, o gesto coeso do não.

Vontade rasa, horizontal, criança,

Atada à tua lembrança,

Assídua, real, banal,

Assistida de tormentos e ventos irreais.

Helena Helena
Enviado por Helena Helena em 02/02/2017
Reeditado em 13/11/2020
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