NEGRA FLOR
Talvez não saibas,
Mas voltarás à clareira da encosta,
Dentro do tempo embrulhado em tormenta,
Ao círculo plano, liso, perfumado, florido.
E um véu estrangeiro cobrirá tua boca, teus olhos,
Mãos tatearão o romper da música!
Do escuro, os brilhos do mistério fulgurarão;
Do silêncio, os estalidos do fogo crescerão;
Do inerte, os aromas rescenderão;
Do pensar, os alicerces da realidade crescerão.
No tato, o doce recato...
E do quase, quase todo,
Ressurgirá o engodo de teu entender que não sente
O duro raiar de um só dia!
A natureza revolta invocará a nascente
E o logo, o quase agora, o somente...
Retirarão da terra infecunda
a doce e negra flor dormente.
Para hoje, para já, a vez que reclamará
a voz unida do sim, o gesto coeso do não.
Vontade rasa, horizontal, criança,
Atada à tua lembrança,
Assídua, real, banal,
Assistida de tormentos e ventos irreais.