O tal do Parlapatão
E eu não conhecia
o tal do Parlapatão.
Quando eu o encontrei
pela primeira vez,
foi lá no dicionário,
procurava um sinônimo
para o tal do Fanfarrão.
O Fanfarrão que canta,
que bebe e que arrota,
que tomba e que levanta...
E que vira cambalhota
no meio da multidão.
E também eu encontrei
por lá outros sinônimos,
como o tal do Bufão.
Aquele Bufão medonho,
que nalgum doido sonho
mandou-se para o Japão,
conheceu a sua gueixa,
e sem a mínima queixa,
louco entregou-se a ela...
Junto sua flor mais bela,
seus olhos e seu coração.
E eu encontrei também
o tal do Paparrotão.
O Paparrotão das bazófias,
com as suas imposturas,
suas gritas alarmistas,
sua cara feia e dura
de amebas futuristas...
A vera caricatura
da carência de ventura.
Mas o que eu escolhi
dentre os que encontrei,
para significar
com o tal do Fanfarrão,
pela sua posição,
pela sua condição,
ou pela situação,
pelo sim e pelo não,
pelo certo e pelo vão,
foi o tal Parlapatão,
sem saber se escolhi
na rapidez da visão,
ou quem sabe não seria
simplesmente empatia,
quem sabe até eu usei
na escolha o coração?
E agora – vejam só! –
caminhando na poesia
– imagina! – eis que eu
novamente encontrei,
bem nos versos que eu lia,
o tal do Parlapatão,
feliz e fazendo festa
lá n’A Mesa do Drummond...
...universo da poesia,
tão pequeno e tão imenso,
que cabe no aceno dum lenço
a mesma enorme poesia
que também (quem é que sabe?)
quase que nem mesmo cabe
no universo em expansão...
E agora – vejam só! –
minha enorme alegria,
que naquela ocasião
eu de fato não errei,
escolhi com maestria
a tal significação,
e foi bem o que queria
para o tal do Fanfarrão:
sentadinho e contente
em meio à sua gente,
lá n’A Mesa do Drummond...
...ainda que sob a alcunha
do tal do Parlapatão.
Parlapatão é um pato
concebido por artista,
é um pato bem grandão,
um verdadeiro patão,
levado pelo ativista
para a manifestação.
Tem a fala presa ao papo...
Parla! Parla, patão!
Fala aí, Parlapatão!
Poucos escutar-te-ão.
Outono de 2016
Manhuaçu, MG, 18 maio/2016