Arte
Pragmática criatura
mui atenta à sintonia,
tudo faz na sincronia,
dita o ânima motor.
– O véu que cobre a escultura
é o cárcere da magia,
tão etéreo e enganador...
A lágrima, se é pura,
pode ser de alegria,
pode ser pura e fria,
e pode ser de pesar.
– A pauta que jaz na partitura
é o fio d’harmonia
dos pássaros do cantar...
A vida, quando é dura,
é quase caricatura,
imerge na fantasia,
adormece no sonhar.
– A tela que guarda a pintura
é o evolar da poesia
que não se pode guardar...
Se muita é a brandura,
é o viver assaz vazio,
a vida é quase fastio,
modorrento é o vogar.
– A pena que tece a candura
é a vela que voga o rio
que leva a poesia pro mar...
A arte é o salão do desfastio
do viver entorpecente e frio
que o cárcere da insânia cria
obstando o verdadeiro navegar.
Singular espiral da loucura
onde cingidos ao gozo da poesia
bailam criador e criatura...
– A arte é o derradeiro gargalhar!
Outono de 2016