Cupido

Recostado na ravina eu sonhava

devaneando pelo verde esmeraldino,

deparou-se-me um anjo pequenino

trazendo aos ombros um’aljava.

Uma fragrância de rosas exalava

da sua tez rosada de menino,

seu cabelo fulvo e muito fino

qual um’auréola divinal brilhava.

Perguntei: _Quem és tu, ó querubim?

Ele olhou-me, sorrindo para mim,

e respondeu-me: _Eu sou tua alegria!

Dar-te-ei o amor, a cada dia...

...Outrossim, sou também tua desdita,

(desses ardis que o amor decreta)

pois tão logo te alveje a minha seta,

tua alma estará pra sempre aflita...

_Mas por que, querubim, tu acreditas

que eu queira aceitar a seta tua?

Não pensas que eu prefira a alma nua,

liberta de emoções malditas?

_Não creio, e pensar somenos,

eu trago setas no meu alforje,

sou divinal, o meu gesto é pleno,

e alvejar-te é a minha sorte.

Disse assim, e seu olhar cintilou,

descerrou-se em luzir alterno,

num instante, ínfimo e eterno,

sua seta ele me arremessou.

Meteu-ma bem ao peito! Não erra

o filho de Vênus a sua arte,

trás no seio o gene de Marte,

o nascido do Amor e da Guerra.

Durou eternidade uns instantes,

foi o meu peito a pleno regozijo,

tragado pelas brumas, distantes,

tesouro aos préstimos do alijo.

Eu que não tenho amor que me socorra,

nenhum alguém que queira me olhar,

vivo tristonho, proibido de sonhar,

não passa a aflição antes que eu morra.

Ando jacente, na ravina recostado,

nos flancos da escarpa esculpido,

desde o dia em que fui alvejado

por aquele deus Eros, o Cupido...

Inverno de 2016

Alzx© Manhuaçu, MG, 14 agosto/2016

Aleki Zalex
Enviado por Aleki Zalex em 16/11/2016
Reeditado em 20/10/2020
Código do texto: T5825408
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