Cuidai, senhor...
A vós, que não nos quisestes ouvir.
Cuidai, senhor, para que não se acabe
Essa tristeza cabal que vos alimenta,
Ide a cada casa, pois que inda cabe
Riso na paz e consolo na tormenta,
Promessas infiéis e – quem sabe? –
Está selada vossa empresa avarenta...
Cuidai, senhor, dos tão excelsos feitos
Erigidos nos dias de vosso mandato,
Que supostos sucessores insatisfeitos
Não façam deles o preferido prato,
Pois que decerto, porventura eleitos,
Não fingir-se-ão concorrentes cordatos.
Cuidai, senhor, para que vosso brilho
Não seja embaciado por solecismos,
Para que não depare-se-vos empecilho
Cuidai de andares longe dos abismos,
E alheio, sempre, a qualquer sarilho
Que possa-vos apontar em vulgarismos.
Cuidai, senhor, para que vosso nome,
Que brilha d’honradez em vossa fala,
Seja de parte que menos consome
(até em razoabilíssima escala)
A lucidez, que a compulsão carcome,
E o vosso coração culpado que cala.
Cuidai, senhor, para que não retornem
A vós todos os vossos desatinos,
Porquanto ainda os meninos dormem
E vão os sonhos tecendo os destinos,
Cuidai para que os maiores se conformem
Quando embora acordarem-se os meninos.
Cuidai, senhor, para com vosso futuro,
Querei-o pois afortunado e sossegado,
Cuidai do chão do coração, mui duro,
Cuidai de arrepender-vos dos pecados,
Cuidai de vosso destino, assaz obscuro,
Cuidai desses tantos remorsos enraizados.
Cuidai, senhor, para que vossa glória
(se escarnecem os vossos inimigos)
Não s’esvaneça dos anais da história,
Que nestes vossa memória tem abrigo,
E cuidai, sobretudo, e sem demora,
De polir o lauto centro de vosso umbigo.
Inverno de 2016
Alzx© Manhuaçu, MG, 21 agosto/2016