"POEMA DAS HORAS E DAS ILUSÕES"

As horas embalam as ilusões,

Nos braços das horas elas dormitam.

Bactérias inermes que mantêm

Os sentidos quase como num coma.

Elas não estão à venda, são

De todos(as) que se movem

Pela ânsia de se arrolar no abstrato,

Pois, o abstrato também é alimento.

As coisas invisíveis atraem mais

Que pedintes de olhos marejantes.

O inverso deveria ser constante,

Ou inconstante se não existisse.

O fluxo das ilusões são mais atraentes,

Nutrem o misantropismo de imagens

Sem cores, de cores sem beleza.

As horas são algozes impassíveis,

Merecem perdão, pela vida que lhe damos,

Pelas vidas que elas veem passar,

Pelos adeuses que elas não evitam.

E em meio, a sua ininterrupta vigência,

Nem desconfiamos que elas, pouco

A pouco, vão levando consigo, cada dia

Um pouco do tudo que supomos ser.

E, em nossas memoráveis ilusões,

Pensamos no amanhã antes do hoje,

Contrariando a santa palavra que diz:

"Não penseis no amanhã, basta cada

Dia o seu mal". E nessa cantilena,

De querer e não querer que os dias

Passem logo, vamos imergindo

No sargaço das ilusões de outro dia.

Quantos sonhos pisados, meu Deus!

Quanto 'por fazer' ficou no meio do caminho!

E agora? Resta erguer a fronte e olvidar

O que para trás ficou e não volta mais.

Faz-se mister caminhar, pois as horas

Não tem ré, elas, imponderavelmente,

Passam... Sem que possamos detê-las.

Não há outro alvitre, a não ser, a resignação

Ante a sua passagem. Buscar um modo

De sentir-se acima delas, talvez, traga

Algum conforto! Mas o desconforto chega

Logo a galope. Então, fazer da própria

Existência um canal de fraternidade, de amor,

Aos que vivem rastejando e anseiam viver.

A Lima
Enviado por A Lima em 02/11/2016
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