VAI MARIA
-"Pois que levo a mim comigo" ,
não sei por onde vou e nem por que sigo...
Tem, Maria, no avesso da alma ,
Costurado e escondido,
Retalho de outra vida,
Nem tão sua ou acertada,
Tal e qual tarde covarde
penteando os cabelos
Sem imagem no espelho...
Iluminada, a estrada convida
Em promessas amassadas
A uma "pedra no caminho".
Mas a viagem sem trajeto
Não suporta porta ou sorte.
Não sonha com qualquer pedra,
já que não há rumo e norte.
Só há árvores em alas tortas,
Plantadas na rosa dos ventos
Que dissipam as pegadas
No ar impressas em tormentos!
Retornar?
Mas quem ousara?
Nas costas, asas paralelas
Ruflam vazio e medo,
Margaridas amarelas
Acenam os seus segredos.
Vai, pela rua, Maria
E em cada curva flutua
A via de sua vida
Tão estrangeira, tão turva!