Consciência vegetativa
Na expectativa de ir além do meu limite de gente
forcei a barra do tempo
e quis crer ser ao menos diferente,
tentando ser alguém...
Senti, muito mais forte o medo que vem;
medo da morte, da dor que me dói em cada ausência.
Busquei alívio na confusão das pessoas
ou em meu isolamento
ao som das músicas prediletas
reverberando a concha acústica de minha alma vazia...
Quis crer existir algo novo como um sinal
da mudança dos tempos e dos homens
como sombras que se movimentam
pelos obscuros corredores do tempo
e pelo submundo das loucuras…
São as lacunas da sanidade:
Mentes presas em corpos com espasmos alucinados...
E a brutal desesperança de quantos haja
que ainda não saibam o que representa “viver”...
Forcei a barra da vida e olhei o mundo por cima,
por baixo e pelos lados, por dentro e por fora,
ou de qualquer jeito que ainda houvesse!
Sondei, pelas terras esquecidas, as carrancas dos deuses,
misteriosas e terríveis,
convivendo lado a lado com o medo dos selvagens,
em seus destinos entrelaçados...
Sondei, no mistério das cidades,
o conglomerado de sonhos,
a aglutinação de temores
e o vazio dos homens...
Vaguei por eternos descaminhos,
forçando ainda a barra tão difícil,
tão complicada e louca que chamamos de vida!
Vida, para quem nela crê como eu creio,
ainda que às vezes duvide ou iluda minha essência de Deus;
e pense que o mundo, cheio de deuses, não queira mais um;
não deseje ainda outro que nasça dentro de mim,
que surja das cinzas de minha descrença,
da fanfarronice de meu medo ou de minha angústia...
E sigo angustiado,
a cada vez que penso em quanto é pesada
esta eterna cruz sobre os ombros frágeis
enquanto eu caminho,
e subo, caindo e tropeçando,
e mesmo assim em frente, para cima, no calvário da vida...
Quanto mais penso e mais protesto contra as inverdades do ser,
mais eu creio e duvido, por tudo quanto vejo
na face amedrontada dos homens!
E mais ainda duvido que se possa encontrar a palavra certa,
o momento certo de virar a mesa,
de exorcizar os medos e temores,
e por fim, começar de novo,
juntando os cacos, reconstruindo sobre os escombros,
alguma parte do ser humano!
É deste modo, sempre em luta, que meu íntimo se debate,
e se liberta às vezes...
Ou se aprisiona na distância,
no abismo das coisas loucas,
enquanto as “gentes” prosseguem e se dispersam
ante o misterioso e inexplicável;
assim como também não se explica o porquê desta loucura,
de tudo que acontece, dia após dia, nesta vida louca!
São coisas assim, quando se tenta ir além do limite do tempo,
do limite da gente; quando se força a barra,
porque não se quer vegetar eternamente
na vastidão dos prados, dos campos de concentração,
onde nossos maiores ideais se dispersam, se desmancham,
ou vegetam, lado a lado com a consciência do homem!