A cotovia
Do alto da copa da árvore brilhava a cotovia.
Dizia do que constantemente via.
A imprudência dos homens,
mas também a solidariedade deles.
Alguns sisudos demais não tinham tempo
de dar atenção às coisas cotidianas.
Outros extremamente amorosos
davam e recebiam carinho dos irmãos.
Havia paz entre eles, havia união.
A cotovia cantava tudo o que acontecia.
O vai e vem desenfreado que se tornou a vida.
A falta de afeto e de compreensão,
vezes em que a dor tomou conta da nação.
No entanto nem só de mazelas se vive,
há muita cordialidade em tudo o que existe.
Enfim a cotovia cansada de cantar
aquilo que fazia mal, passou seus últimos dias
na cidade natal na copa daquela árvore
fechando os olhos pras indecências da vida.
Cantava tão somente as alegrias sentidas.
E nesse momento grandioso sentiu-se
prazerosamente feliz.
Cantou o que tinha vontade
do seu mundo sem fim.