INDIFERENÇA
Um bocejo para a noite escura e morna...
Ela acorda para viver uma pausa.
Arranca as raízes neutras
e sustenta em si a nota morta.
Conta e repõe os pontos de luz
que pintam a parede.
Aninha no silêncio os suspiros recortados.
E ri, e chora
e suspende a hora desalinhada
que perfura a respiração pontuada.
Não quer, não vai,
não sabe, não deve.
A noite, mãos abertas para o dia que há de vir,
nada entre pedras.
Os musgos crescem indiferentes e fáceis.
Quem mudará a cor do quadro?
As cores se mesclarão em rios crus.
É preciso dormir para acordar.
As unhas crescem indomáveis.
Canta hinos o inimigo.
Ela pronuncia a suave melodia da dor.
Dessas dores que se perdem entre todos,
Nos toques das correntes de água fria.
Vai, Maria, guarda a pele ampla
do toque do sol, do ar, da mão áspera,
da espera agônica do feliz gosto parco.
Retorna, renasce para o que não se vê
nem promete.