ETERNIDADE

Sou galho seco de pinho

Debruçado no quintal,

Sou asfalto, areia, espinho,

Eu sou o homem imortal.

Sou futuro e sou passado,

Jogando a mesma partida,

Eu sou um momento azado,

Sou passageiro da vida.

Tenho segredos guardados

Do recôncavo da história,

Trago os sonhos mais sonhados

Das entranhas da memória.

Eu sou a mão estendida,

Sou a carícia fatal,

Eu sou a alma perdida,

Sou o espectro do mal.

Eu sou o amor mal-amado,

Sou a esperança perdida,

Eu sou o mundo encantado,

Sou a verdade da vida.

Eu sou a terra sangrando,

Sou a vertente do mato,

Eu sou o instinto matando,

Sou coração mais ingrato.

Eu sou a vida espiral,

No circuito da memória,

Eu sou o homem imortal,

Que jaz à campa da história.

(1980)