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Posso me orgulhar de ter feito um bom colégio - o ginásio, sob disciplina jesuíta do velho Anchieta, que na época era dureza, e, o curso clássico, no "Julinho" das grandes causas estudantis. O Julinho era um ótimo colégio e frequentá-lo foi decisão pessoal. Prestei vestibular só para o Direito da UFRGS, em 1966, e passei em sexto lugar, acho que tive sorte. Com minha família, morei desde pequeno no interior, na época das estradas de chão batido, buracos, lama e cascalho, com balsas para atravessar os rios. Eram longas viagens. Não tive talento para aprender a tocar instrumentos musicais, mas minha mãe ensinou-me datilografia, que era habilidade fundamental para qualquer emprego de certo nível. Aprendi tb a dançar um tango básico, que exercitava com as empregadas, quando os pais iam ao cinema. Peço licença pra contar: aos dez anos, venci um concurso de perguntas e respostas disputado com estudantes de todo o Alto Taquari, transmitido pela Rádio Encantado e cuja final realizou-se no Cine Teatro Encantado. Chamava-se "Você é o Limite". Respondia sobre Geografia-Geral. A seguir, fui enviado à Capital para que me educasse num bom colégio. Minha trajetória estudantil foi interessante até certa fase: O Reitor do Anchieta disse a meu pai, na minha frente, que, embora com boas notas no Exame de Admissão prestado em Encantado, naquela tradicional escola de elite de Porto Alegre, ficaria lá pelo vigésimo da turma. No 1º mês, tirei 3º lugar, no segundo, 1º, e assim praticamente até o fim do Ginásio. O que me ajudou na vida foi ser um pouco competitivo e ter um tanto de vaidade intelectual, já que aprontei muito e sou bastante inquieto. Residi com os avós até os 15, quando meus pais e seus outros 4 filhos vieram de vez para Porto Alegre. No curso clássico do Julinho, envolvi-me avidamente com política estudantil e movimentos de contestação. Tive, portanto, agudos conflitos domésticos. Como gostava de ler, acabava passando relativamente bem. Na Faculdade, fiz curso razoável, pois ainda estava tentando me encontrar. Em junho de 1967, me mandei para a Europa, com passagem só de ida, segunda classe, cabine de seis pessoas, no navio Enrico “C” - que saiu de Santos, para onde fui de ônibus, com US 300 no bolso. Muito pouca gente ia então para a Europa, ainda mais com vinte anos. Fiquei meio ano por lá, basicamente em Paris, onde estudei, fiz amizades, trabalhei - inclusive em bares/boates (no "Mexico Lindo", muito referido p/Vargas Llosa, no "Travessuras da Menina Má") - permaneci quase uma semana na rua - duro, mas feliz. Consegui realizar viagens interessantes por vários países, mas me esbaldei em Paris, onde vivi a maior parte do tempo clandestinamente em quartos emprestados por conhecidos, especialmente Gérard, amigão parisiense, que até hoje cultivo. Meu sonho, na verdade, era ficar por lá para sempre.

Nem preciso enfatizar que meus pais foram contra a aventura, mas era necessidade existencial: vendi uns badulaques, consegui o saldo com os avós e gerei o fato consumado. Depois de muitos apelos, regressei em tempo de fazer segunda época, em fevereiro de 68, e passei “mais apertado do que colete de índio”, como disse um Mestre. Pelo fim do terceiro ano, comecei a levar mais a sério os estudos acadêmicos e me formei em 1970. Acho que relativamente preparado, porque não me faltaram oportunidades. Passei a estudar bastante por conta própria. Casei-me em 1971, tenho dois filhos e três netos; os filhos são formados em Direito, casados e independentes. Permaneci casado por 17 anos, desfrutei um longo período de solteirice, mas agora novamente casado com Andrea, cuja relação começou em 2003. Lecionei Direito Constitucional por quase dez anos: primeiro, na Faculdade de Direito Ritter dos Reis, em 1976, depois no Direito da PUC, de 1989 a 1998. Curto literatura e sou uma espécie de escritor bissexto, amador. Além de alguns livrinhos, publicava, de vez em quando, em jornais aqui do Estado, mas enchi, prefiro a internet. Sou veterano, sim, mas ainda juro que estou na flor dos meus 60 e poucos anos! (26/10/2022).