NAVIO-FANTASMA

No vazio do meu olhar

inexiste definição aparente

apenas névoa que insiste

em ocultar a paisagem

do ainda não claro início do dia

apagando todas as estrelas

em lenta e prolongada asfixia

ignorando que são tão belas

Na incerteza do meu caminhar

infinitos lugares em que não aportarei

cidades mortas, por não conhecidas

como se fossem lugares ausentes

avistados do convés de um navio-fantasma

numa noite de sonho doce e estranho

em que imaginando ser - da noite - um rei

deixei o corpo na cama e me pus a flutuar

Na cegueira fria do meu sentir

tateio as impressões que chegam a mim

sob a forma de cheiros, colírios, sabores,

insultos, dores, facadas e afetos

tentando estabelecer uma lógica

entre o tempo sempre a ruir

- angústia que me mortifica -

feito vermes roendo uma maçã

ou fumaça que se evade de chaminés. . .

- por Hans Gustav Gaus, almirante holandês, a serviço de Mauricio de Nassau, depois de naufragar em Porto de Galinhas e ali fundar a primeira pousada dedicada ao turismo ecológico, em 06/07/2016 -