Dentro da Gente
Você não ver abismo quando vira o rosto?
Outro rosto de olhos desiluminadamente magnéticos?
As concentrações frias de corujas fantasmas
Que repentinamente alçam grandes voos em meio madrugadas?
Ah, minha amiga, quando vira o rosto
Não sentes não haver para onde virar o rosto?
Aqui e acolá são seres caídos,
Um braço fora, revelando o mal feito...
Esses mortos que nos refletem acabam por nos cegar soslaiamente,
E cada encontro impossível que houve entre mim e eles
me aleijaram cá dentro, escombros...
Mas de uns tempo para cá tenho procurado ouvir direito
o gemido dessa alheia gente,
a sua indiferença,
a sua incessiblidade a Stravinski, a Strauss e Dostoievski...
Eu penso num poema de José Régio e dou mais um passo,
São miseráveis de um jeito que o dinheiro não pode resolver,
E por isso fico compugido,
A dó diante dessa pobresa gela meus dentes,
Tudo que posso fazer é uma prece,
Porque certas Riquezas são construidas por cada um de nós,
com sangue, suor e lágrimas, dentro da gente...
Então minha amiga,
Ao desviar o olhar, quando mirar o vazio e o escuro e o ermo,
Se perscrutar bem, verá um abismo cheio de indecifráveis,
Como se uns olhos de infinita circunferência estivessem
também olhando os círculos dentros dos seus,
um monte de guardados...
E quem sabe até poderemos conversar,
Porque já sei
Que o que em mim em ti também há...