Dentro da Gente

Você não ver abismo quando vira o rosto?

Outro rosto de olhos desiluminadamente magnéticos?

As concentrações frias de corujas fantasmas

Que repentinamente alçam grandes voos em meio madrugadas?

Ah, minha amiga, quando vira o rosto

Não sentes não haver para onde virar o rosto?

Aqui e acolá são seres caídos,

Um braço fora, revelando o mal feito...

Esses mortos que nos refletem acabam por nos cegar soslaiamente,

E cada encontro impossível que houve entre mim e eles

me aleijaram cá dentro, escombros...

Mas de uns tempo para cá tenho procurado ouvir direito

o gemido dessa alheia gente,

a sua indiferença,

a sua incessiblidade a Stravinski, a Strauss e Dostoievski...

Eu penso num poema de José Régio e dou mais um passo,

São miseráveis de um jeito que o dinheiro não pode resolver,

E por isso fico compugido,

A dó diante dessa pobresa gela meus dentes,

Tudo que posso fazer é uma prece,

Porque certas Riquezas são construidas por cada um de nós,

com sangue, suor e lágrimas, dentro da gente...

Então minha amiga,

Ao desviar o olhar, quando mirar o vazio e o escuro e o ermo,

Se perscrutar bem, verá um abismo cheio de indecifráveis,

Como se uns olhos de infinita circunferência estivessem

também olhando os círculos dentros dos seus,

um monte de guardados...

E quem sabe até poderemos conversar,

Porque já sei

Que o que em mim em ti também há...

Sebastião Alves da Silva
Enviado por Sebastião Alves da Silva em 14/07/2016
Reeditado em 27/12/2021
Código do texto: T5697136
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2016. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.