SORTE

Por mais, por menos,

desfazem-se os caminhos

de areia, de pedrinhas.

De lama, de cimento,

fazem-se os ninhos.

Com todos os tempos,

com os vazios sem tempos,

voam as ideias,

voam os passarinhos.

Na forma, na reforma,

na conformidade da alma,

constrói-se cada batalha,

tece-se cada mortalha

para abrigar nossa calma.

Por aqui meus pés são marcas,

por desertos são meras barcas

que se perdem em calor ,

sem retorno e sem palma.

Quero o tempo sem remendo,

serei o remédio ao sedento

que bate indeciso

à porta,

e sempre a mim

se atira lento , doente,

ao relento!

Meu ombro nunca se curva,

é porto, é fim,

é vinho, é sangue,

é transfigurar de uva.

Helena Helena
Enviado por Helena Helena em 13/06/2016
Reeditado em 15/12/2018
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