SORTE
Por mais, por menos,
desfazem-se os caminhos
de areia, de pedrinhas.
De lama, de cimento,
fazem-se os ninhos.
Com todos os tempos,
com os vazios sem tempos,
voam as ideias,
voam os passarinhos.
Na forma, na reforma,
na conformidade da alma,
constrói-se cada batalha,
tece-se cada mortalha
para abrigar nossa calma.
Por aqui meus pés são marcas,
por desertos são meras barcas
que se perdem em calor ,
sem retorno e sem palma.
Quero o tempo sem remendo,
serei o remédio ao sedento
que bate indeciso
à porta,
e sempre a mim
se atira lento , doente,
ao relento!
Meu ombro nunca se curva,
é porto, é fim,
é vinho, é sangue,
é transfigurar de uva.