O GRÃO DO INFINITO
Não há bem que seja eterno
Nem, tampouco, a eternidade.
Mire o céu e veja se existe além do passado,
Imagine-se na galáxia vizinha
Observando a extinção dos dinossauros
Posto que somente haja luz
Na viagem infinitamente
De carona com o contratempo:
Nem assim o infinito é plenitude.
Note um grão. Pise o grão. Desperceba-o.
Imagine-se pisoteado pelos pés do universo.
Pensa naquela gota. Despeje-a no oceano. Veleje de volta ao cais.
Perceba-se despercebidamente mergulhado no mar de cosmo.
Só se nota a nossa existência quem conosco coexiste.
O resto é imensidão para lá de indiferente.
A mão que preenche o bolso é a mesma mão que assina.
É dever do frio: anular qualquer possibilidade.
Faz-se contrato de concreto bruto pra amansar o ser humano.
E humano amuado enaltece a luz.
Mas luz é só luz.
Luz faz vento se tornar calor.
Calor agita a molécula.
A molécula é o grão do grão.
Nas dobras do espaço eu toco a sua mão.
Não precisamos acelerar nada.
Dou a isso importância titânica
Coisa de um coração tectônico
Exagero de quem se assume mero átomo sideral
E precisa ser notado
E pretende ser ouvido
E por isso tem berrado
De um modo tão interno, de um jeito assim, fechado.
Importante é o som que surge
Interage com a matéria escura, e eu sei que você sente,
Não deu certo neste nosso tempo-espaço,
Sei que as falhas ensinaram tudo errado
Só não sei se quem tem lhe aconselhado
Olhou para o céu ultimamente.
Algumas estrelas insolam planetas
E os seres daqueles mundos
Estão a nos olhar os nossos dias já vividos
Amores de lá garantem que em nós têm-se inspirados
E n’outras galáxias ainda mais distantes
Gradativamente assistirão a nossa história
Num processo de plena expansão
Cada vez mais longe, cada vez mais gente, cada vez mais estrelas,
E de telescópios luzentes
Ver-se-ão eternidade apenas
Do amor de quem, entre nós, não cessa.
Eis a infinitude de um grão.