INSÔNIA
Puxa-se a coberta da noite
e em seus ombros ela pesa
e não aquece.
Olhos irônicos piscam no negrume espinhoso.
E, quando cada cão late,
vem da infância o som do medo de estar abandonado
nos braços de um deus ameaçador.
No medo dos medos
soa a música apocalíptica,
brilhando metálica nos vazios profundos
do sem-fim.
Um desses sons que dizem
o segredo que nenhum deus,
impresso nas mãos da natureza,
contou-lhe.
Então você reza e se encolhe
boiando à deriva
no líquido amniótico
que preenche o nada.