kafka
Nesse exato instante uma semente,
soterrada a poucos centímetros abaixo da terra,
rompe com todas suas forças em direção à luz do sol.
Maria está na pia lavando a louça que ficou amontoada desde ontem.
Já faz duas semanas que ela lava a louça olhando de vez em quando,
o canteiro com as sementes recém-plantadas mais à frente à sua janela.
Algumas nuvens passeiam entre os urubus pelo céu de fundo azul.
Desde o dia em que foram plantadas no canteiro,
as sementes explodem lentamente suas raízes,
se fixando nas paredes do solo,
enquanto Maria faz seus afazeres rotineiros.
Maria entra no trabalho as oito.
Amanhã talvez, alguma plantinha tenha brotado.
Paciência Maria,
um dia toda essa agonia há de findar.
Um dia desses você rompe até a luz...
Pela minúscula janela do banheiro da fábrica,
Maria observa o horizonte distante.
Ao fundo,
o barulho insistente do maquinário em seus ouvidos,
a puxa de volta para o trabalho.
Mas ela,
como tantas outras vezes,
não quer voltar para suas garras...
Em cada um dos passos de seu retorno,
Ela sente em seu corpo cansado,
O lindo dia que está fazendo lá fora...
Novamente suas mãos tornarão a ser
usadas e abusadas perante a inesgotável
Linha de produção...
Ela compreende que está presa a vida,
e que graças a essa necessidade dentro si,
submete-se as migalhas de seus opressores.
Mas que eles não a queiram conformada,
Pois, nem mesmo o melhor trabalho do mundo,
pagaria ilusão suficiente para fazê-la renunciar a si mesma!
...E então, á fabrica a possuiu outra vez.