Estação armênia 2:59
Uma bunda nua perambulando pela madrugada. Estação armênia, 2:30. A bunda passa requebrando em frente a um morador de rua que acabou de sair de dentro da sua minúscula casa de papelão. O homem começa pigarrear em alto som e a escarrar a cada dois minutos na calçada aonde se encontra. Há lixo espalhado por todos os cantos. A bunda está de volta. Ela pertence a alguém nu da cintura para baixo. Numa esquina um carro freia bruscamente, um homem salta e sai correndo. Após algum tempo ele volta, liga o carro e parte novamente. Os policias na base próximo à estação do metrô fingem não ter visto nada. O dono da bunda, um travesti, cruza por nós e nos dá um sorrisinho malicioso. Também próximo à estação estão dois moradores de rua. Um deles usa uma faquinha para arrumar a roda de um carrinho de feira, o outro está bêbado e balbucia algumas palavras incompreensíveis. A temperatura está amena. Não faz frio, nem calor. Mesmo assim o escuro da madrugada e toda decadência em volta faz tudo gelar, ficar sombrio. A sensação é de que tudo está perdido. Que não existe mais esperança e nem existirá. O individualismo egocêntrico das pessoas faz tudo na cidade se movimentar para baixo. Pro esgoto. A cidade fede. Tudo está apodrecendo... Estação armênia 2:40.