Zerar

Tranquei-me no meu quarto

Até que me esqueça do tempo

E as barbas caiam

E o silêncio se estabeleça,

E que de vez por todas

Eu apareça...

Porque ando onde não estou,

E vai comigo quem não sou,

E pensa o que não quero

E está calmo enquanto me desespero, preso dentro de mim...

Ah, entre e tranquei a porta,

Pus a chave de molho,

E estou a beber até que ela se dissova em mim

Como a abri cada subpartícula de meu ser

Para que tudo se mostre

E eu entao possa montar a mim mesmo,

E me abraçar no escuro desse quarto

Como quem não abraça a ninguém...

Eu sou o que não cabe em mim,

Uma saudade de não sei quê

E preciso encontrar um caminho

Que me leve até mim...

Tranquei a porta, e talvez tu ouças gritos e pancadas,

Ranger de dentes e choros, estranhas risadas...

É que estou mesmo disposto

A sofrer qualquer tortura

Mas não saio daqui sem nada...

Tranquei-me no quarto, e eis que prevejo alvoradas...

Sebastião Alves da Silva
Enviado por Sebastião Alves da Silva em 17/04/2016
Reeditado em 18/04/2016
Código do texto: T5608321
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