Zerar
Tranquei-me no meu quarto
Até que me esqueça do tempo
E as barbas caiam
E o silêncio se estabeleça,
E que de vez por todas
Eu apareça...
Porque ando onde não estou,
E vai comigo quem não sou,
E pensa o que não quero
E está calmo enquanto me desespero, preso dentro de mim...
Ah, entre e tranquei a porta,
Pus a chave de molho,
E estou a beber até que ela se dissova em mim
Como a abri cada subpartícula de meu ser
Para que tudo se mostre
E eu entao possa montar a mim mesmo,
E me abraçar no escuro desse quarto
Como quem não abraça a ninguém...
Eu sou o que não cabe em mim,
Uma saudade de não sei quê
E preciso encontrar um caminho
Que me leve até mim...
Tranquei a porta, e talvez tu ouças gritos e pancadas,
Ranger de dentes e choros, estranhas risadas...
É que estou mesmo disposto
A sofrer qualquer tortura
Mas não saio daqui sem nada...
Tranquei-me no quarto, e eis que prevejo alvoradas...