Parlapatão Novado

A sua face era mui densa, embuçada
por hirtos pelos que o queixo lhe cobriam,
sobrolhos espessos de maneiras arqueadas
a ocultarem as olhaduras dissimuladas
que o ludibrio e os intentos escondiam.

Duas narinas quais de poldra arreganhada,
a encimarem boca de útil embocadura
espargindo postiças falas que circunfundiam
os solecismos que à plebe muito atraíam,
sem lograr essa a desfaçatez da propositura.

O andar moroso dumas pernas escarranchadas,
os gestos pensos e alheados das mãos incrassadas
sem preocupação em ocultar dos que as viam
a extremidade menor ausente, mutilada,
a balouçarem bandeiras púrpuras que fremiam.

O rúbeo astro em céus escassos incandescia,
displicente e oportunamente a voga ascendia
atingindo o zênite do poderio da nau abrasada,
mui carecida de capitania assaz destemida
e que já há muito batia-se às vagas encapeladas.

Mas despontaram as exprobrações, inesperadas,
mui mais por ele que pelo escol, a flor, empenhada,
deveras sedenta por patentear suas aleivosias,
articulando sua decadência epopeica e sombria
com ânsias de gládio perseverante em luta renhida.

Foi feito banido a primar e pender pela teimosia
em não abandonar o soalho gasto da nau amada,
perseguido que não se dava à clã dantes vencida,
com ares aflitos do justador que arruína a lida
ao vislumbrar quanto fora incauto à luz do dia.

Não findou ainda a história rota e atrapalhada
desse apedeuta que trilha por ora em ruda estrada
a jurar vingança à casta odiosa, vil e doentia,
que seu fim abrolha com indiscrição escancarada...
...E nem ele infere o desfecho da imensa embrulhada!

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Esse poema (que à primeira vista pode parecer bem estranho) foi inspirado nas chamadas 'Cartas Chilenas', poemas satíricos (decassílabos, brancos) do poeta e inconfidente Tomás Antônio Gonzaga, que circularam anonimamente em Vila Rica entre os anos de 1787/1789, pouco antes da Inconfidência Mineira, e que ridicularizavam o Governador da Capitania de Minas Gerais, Luiz da Cunha Menezes, a quem o poeta atribuiu o nome 'Fanfarrão Minésio', como sendo um suposto governante do Chile que nunca existiu.
A obra, inacabada, é constituída de treze cartas, onde Critílo (Tomás Antônio Gonzaga), narra a seu amigo Doroteu (imaginário), as peripécias ilícitas e os desmandos políticos do governante chileno. 
Literalmaente, é a obra satírica mais importante do século XVIII brasileiro, e continua sendo o índice de uma época.
Claro que tanto a autoria da obra como sua circulação se deram de forma clandestina.
É uma parte muito interessante de nossa história, do ponto de vista literário, e também político, que nesse caso, estavam intrinsecamente ligados. Saiba mais em:


http://www.passeiweb.com/estudos/livros/cartas_chilenas

(Resumo explicativo da obra)

http://biblio.com.br/defaultz.asp…

(A obra completa: As treze cartas)
Aleki Zalex
Enviado por Aleki Zalex em 16/04/2016
Reeditado em 17/04/2016
Código do texto: T5606832
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