ENGANO
Qual parte de meu corpo é chuva clara?
Quando sou estertor no fim da tarde?
Quanto de tudo isso tem,
Que se imagine bom,
mas simples,sem risco de alarde?
Sonho que sonho e sonho tanto,
Que não vivi a vida que me deram.
Reescrevo meu prazer e alegria
Na tábua fria do colher do dia.
Na tarde larga, isenta de surpresas,
Prendo meu fardo de ternuras,
Mas, logo sei que de incertezas
Será tecida minha pior fartura.
Quero o deserto, o som do eco.
O zunir do inseto na cozinha.
Quero o sossego da agonia,
E estar só, ninguém ao lado
Restar sozinha
Miragem desértica,
Alma liberta
E corpo preparado.