QUANDO
Pão e manteiga nos dentes, diz Pessoa.
Calor e suor no corpo, diz Helena.
Tão grandes as palavras do moço de chapéu,
multiplicado de pensares:
com a imaginaçào,
com a razão,
com os sentidos,
com a emoçào.
Ela, uma simples, com lágrima nos olhos,
que nem bem enxergam a água da realidade
escorrendo nas valas da rua.
Calor e pele queimando sob o Sol coberto
De nuvens ardidas de azul.
Ela com os insetos barulhando na grama,
enquanto seu chão cambaleia no caminho torto.
Passos pesados maceram a rota.
A carne arde fria no ponto.
Dentes aprontam-se para a mordida indolor.
Caninos prontos para sangrar a mucosa brilhante
que mente sua doçura doente.
Fingidor, o poeta desce para a mentira
que tece qualquer realidade que abraça
a história, a memória, o entulho, o futuro.
Momento, fermento excessivo,
pedido ácido
de pão ázimo.