QUANDO

Pão e manteiga nos dentes, diz Pessoa.

Calor e suor no corpo, diz Helena.

Tão grandes as palavras do moço de chapéu,

multiplicado de pensares:

com a imaginaçào,

com a razão,

com os sentidos,

com a emoçào.

Ela, uma simples, com lágrima nos olhos,

que nem bem enxergam a água da realidade

escorrendo nas valas da rua.

Calor e pele queimando sob o Sol coberto

De nuvens ardidas de azul.

Ela com os insetos barulhando na grama,

enquanto seu chão cambaleia no caminho torto.

Passos pesados maceram a rota.

A carne arde fria no ponto.

Dentes aprontam-se para a mordida indolor.

Caninos prontos para sangrar a mucosa brilhante

que mente sua doçura doente.

Fingidor, o poeta desce para a mentira

que tece qualquer realidade que abraça

a história, a memória, o entulho, o futuro.

Momento, fermento excessivo,

pedido ácido

de pão ázimo.

Helena Helena
Enviado por Helena Helena em 01/04/2016
Reeditado em 11/10/2017
Código do texto: T5592168
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