NO LAGO

“Molhando meus pés em suas águas e olhando a imensidão que te compõe, sinto um aperto no coração e um redemoinho de pensares.

Vim até você procurando um pouco de paz, e respirar um ar mais leve.

Vim aqui querendo me refugiar um pouco e ouvir apenas o som do que há ao redor.

Fazer desse dia, mais um degrau para que eu afaste certas lembranças e o que elas me causam.

Separar os momentos mágicos vividos e guardá-los, um a um, numa pequena caixa.

Tudo que for descartável e que me feriu, enfio num baú fechado com cadeado onde, sobre um barco, será levado ao mar.

Tudo isso se vai.

Mas algo dentro do peito reclama. Algo está pendente. E alguém irá supri-lo.

Seja lá quem for. E intensa e urgentemente, terá saciado sua necessidade.

Matará sua sede infinita de estar vivo, batendo e guardando coisas boas.

Uma brisa leve toca meu rosto como uma carícia.

E nesse momento, sinto uma calma me tomar por inteiro.

Os ombros se distensionam, as mãos sobre as pernas, e a respiração flui.

Assisto o bailar das árvores de um lado, e um bando de pássaros cortando o ar acima de mim.

E você, em sua imensidão, apenas me ouve em silêncio.

O desabafar de um ser que deseja apenas ser ouvido. Ser querido.

Alguém que deseja apenas um olhar.

Que desse olhar, se origine a paz que me invada a alma, e a cumplicidade que sirva de suporte e troca para o meu sentimento, minha intensidade e meu canto.

E uma mão, que segure a minha fortemente e jamais me largue.

Caso eu demore a voltar aqui, é porque eu encontrei quem eu queria.

Mas não se preocupe. Eu volto. Com a outra pessoa também.

Para que ela conheça meu parceiro imenso de horas infinitas.

E para te dizer “obrigado”.

Por não apenas ter refletido minha própria imagem.

Mas por me mostrar que uma lágrima minha em suas águas, não faria nenhuma diferença.

Por me ensinar que a melhor forma de viver a vida, e receber tudo que vier dela, é sorrindo.”