MUITO ONTEM
Em silêncio entreguei meus pontos.
O tecido leve que embrulhava o gesto
estava amassado em um canto triste,
correndo em busca
da noite que veio
e caprichou na roupa
com que me vestiu.
Só fiz então fechar os olhos
e sentir no peito o coração
aprisionado em assimétrico pulsar.
Fio de pérolas falsas descansando
no colo arfante.
Pérolas mentirosas nas orelhas,
Boca vermelha.
Mas não foi agora,
Era muito, demasiadamente ontem,
quando o verde das plantas brilhava o mais.
Impossível repetir o tempo.
Mas, em silêncio,
entregar os pontos anda se instalando
No meu lado esquerdo,
acomoda-se como lentes negras
entre mim e meu querer
que insiste em se perder.