Sussuivo

SUSSUIVO

Para Allen Ginsberg

E quanto mais eu me embaraçava

Mais eu procurava entender o significado

Das estreitas estradas de barro e lama da Fazendinha

Procurava entender a casa onírica

A minha mãe

E vamos revolucionar

Cadê os piolhos

Cadê os chatos da sua buceta

Não me vexe não

Tenho um acorde misterioso no meu coração

Não uivo, simplesmente sussurro

Tudo aquilo que as monjas de verdade não querem ouvir

A verdade

Não existe verdade

Somente resquícios da pele fina

Do diamante fino

Daí, eu lapido as palavras

Mas não sou um bom ourives

Não consigo fazer ou trazer perolas do fundo da linguagem/pensamento

Canso

Como canso nesta minha imensa inabilidade de transformar bosta em perolas

Sou o Rei Merdas

Transformo perolas em merda

E daí

Tudo é matéria

Porque perola é melhor que merda

Inclusive tem menos nutrientes

Sussurro

Surro os governantes das grandes potências

Pelos franceses caídos pelo Estado Islâmico

SUS

Surro

O governo pelos doentes brasileiros

Muito mais que os cento e vinte franceses

Que vão morrer

Não por culpa do Estado Islâmico

Mas por culpa de nós todos

Surro e sussurro a minha, a nossa poesia, porca e decante

Que não mais altera nada, não serve pra nada

Sussurro e surro e me tornarei surdo

Pelos apelos de humanidade

Pelas velas recolhidas e postadas em frente a tantos altares da miséria e da televisão e da

internet

Quero voltar aos apelos de uma humanidade que tinha

Kerouac

Ginsberg

Burroughs

Mas sou apenas

UM VAGABUNDO UIVO NÚ NA ESTRADA