Natal do caranguejo

Vou radiante pelas estradas do mundo, ai, radico, abdico, me torno um pouco cansado e digo: Será que já não vivi o bastante. Mas ai, piso numa florzinha que possui alguns espinhinhozinhos, quase umas tachinhas, que fazem doer o meu pé. Sabe, é ruim falar, mas esta florzinha é você e ai eu vou voltando das águas petróleo profundas da vida e esqueço esta pequena dor e vou lembrando de peixinhos vermelhos e dourados que nadam no meu coração aquário e que agora, ao invés de reluzirem como o tridente de Netuno, são suas palavras que me levam entre o sonho e a realidade e eu vou entrando cada vez mais neste vazio que é o "entre". Um entre que é um vazio quente, o coração da mãe terra...Daqui a pouco vou renascer outra vez, vou do ventre da madre terra para o primeiro raio de sol... Aquele que transpassa o Marumbi e chega ao Nhundiaquara. Vejo um menininho, não sei se sou ele ou ele sou eu, tem o polegar no lábio, como uma chupeta, e tem asinhas de peixe. Abre-se ainda mais o buraco, gigantesco, a boca da baleia, sou Jonas, sou Noé, sou o silencio da boca da morte e o barulho do choro da vida. Sinto-me em seu colo, a sua mão acariciando a minha pequena cabeça. Imersa neste gigantesco turbilhão de cores. Gira cada vez mais rápido e os cardumes de peixes e arraias giram ao meu redor. Entro num imenso escuro, mas não escuro de buraco, mais imenso e mais intenso, de repente o salto mágico... O salto para fora da realidade........