FALE COM ELA

Fale com ela.

Mantenha-a viva.

Desvista a toga,

Deponha o martelo, abandone a bancada

E fale com ela.

Ela só quer tatear os sons,

os desenhos de suas palavras.

Palavras que descem e sobem as montanhas

Que não existem na paisagem dela.

Palavras que acendem o sol,

desviam os rios para seus pés,

arrancam do solo as flores em cores.

Fale com ela.

Maço de palavras bem enlaçadas

Enfeitam seus vasos atrapalhados.

Palavras em brilho, palavras pesadas,

Palavrões e palavrinhas,

A língua dos santos e a dos pecadores,

Dos bruxos e dos celerados.

Deposite nas folhas brancas

Que vestem o corpo dela

As letras embaralhadas,

Enigmas de escuras línguas

De povos já enterrados.

Nelas, o branco leitoso, em

passe de opaca magia,

trará palavras-minério

brilhando à luz do dia.

Só isso, faça mais nada,

Escreva a litania...

Que o efeito encantatório

A fará anoitecer,

E de novo adormecer.

Por isso e por apenas isso,

fale com ela.

Helena Helena
Enviado por Helena Helena em 22/12/2015
Reeditado em 31/03/2018
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