A POETA/ A POETISA
Não a veste o conforto
da poeta ou poetisa.
A toga perfeita, exata,
pende torta, estrangeira,
Sobre o risco pontilhado
Do rascunho de seu corpo.
O armário à sua frente
Apresenta opções.
Para a poetisa:
Toga pintada de estrelas,
outra de orações.
Uma só para amores
Cercados de dor e flores.
Para a poeta:
A toga com luz e sombra
e, em outra, os horrores:
males da alma, da palma,
as mortes de cada dia,
os pesadelos da tarde
E a dos fantasmas da noite.
E a maior, a da solidão,
Rebordada em pedraria.
E muitas mais,
ajambradas,
desenhadas,
bem cortadas.
Nem poeta , nem poetisa.
Recusa, não aceita nada.
Vai nua, envolta em névoa,
Vai só com suas palavras.