LIMPO ATO

Ah! Deixa-me deitar sobre a grama molhada,

Deixa-me ficar verde em toda aspereza,

Deixa-me fechar os olhos em ritos lá de fora,

Deixa-me restar sobre a terra aquosa, quase lama.

Quero estar em silêncio sobre a cama,

Quero fechar os ouvidos com suspiro,

Apertar entre as mãos as vãs lembranças

Que adulteram a luz do dia em retiro.

A boca em ríctus , a vontade alterada,

O tudo, o nada sem batalha,

Com todo o poder de tal mortalha.

Venha a fera aberta em pronta garra.

Cantei, canto, estou cantando.

Fiz, faço, estou fazendo.

Mas...

Neguei, nego, estou negando.

Morri, morro, estou morrendo.

Furacões, tornados, chuva mansa,

Derretam o meu corpo, minha alma,

Embrulhem meu querer em seda fresca,

Matem meu desenho em limpo ato.

Helena Helena
Enviado por Helena Helena em 30/11/2015
Reeditado em 17/01/2018
Código do texto: T5466005
Classificação de conteúdo: seguro