Agora que vou viajar
Agora que vou viajar
eu avalio o que deixo, e o que levo, e para aonde vou...
Não tenho vontade de ir, mas muito menos vontade de ficar,
e lá tem o mar...
Ah! o mar, o mar e o esquecimento, como seria bom esquecer
diluir tudo num grande mar calmo e noturno...
Mas não, não é possível, preciso é aprender a viver com essa bagagem que fui juntando, preciso é... Mas ela torna a vida tão lenta...
Vou viajar hoje a noite,
durmo e não vejo a viagem,
para que mais estas lembranças a me ocuparem o pensamento,
esses pedintes, esses bêbados, esses jovens, essas mulheres, ah
esses velhos, essas pessoas e coisas... não, não quero lembrar delas,
dos seus olhos comunicantes, que me dizem seus sonhos
e suas frustrações, e suas angustias agudas que se instalam no meu coração dolorido... não, prefiro ir dormindo,
mergulhado no mar de minha própria noite escura....
Vou em silencio,
e lá me vai buscar um amigo,
e depois talvez andemos a beira da praia, sentindo o vento,
mas sem molhar os pes, e quem sabe conversemos,
quem sabe?
Mas, conhecendo meu amigo,
muito provavelmente escutaremos, ele e eu,
cada um de nós uma canção que vem de longe,
de lá depois do mar,
do sem fim,
como se apenas o que é infinito pudesse nos bastar...