Magoia (O Crítico)

À folha que sempre teve

Esta palidez de celulose

Dou-lhe a vida...

Em doses...

De uma tinta azul e forte,

A força desmedida em versos,

Versos nus, sem máscaras...

As retinas...

Estas pobres figuras que a inanimada

Alma condena, condena à dor.

A palidez de uma folha pobre

À esta deve-se dar-lhe a cor

Azul, vermelha, preta.

Devia também o leitor determinar

Tais coisas, pois à este é dedicado

As noites de insônia do escritor.

Ah ingrato ofício! Triste, o poeta.

Mas até o leitor o condena.

Condeno-te também, meu caro poeta.

Abre-te os olhos sonolentos para criar,

Utopias...

Condeno-te à forca.

A guilhotina te seria prêmio,

Deves ter sessado o coração.

Esta crítica te é por medida, a parte certa.

Deste à pureza pálida de uma folha,

Indigna da marca de qualquer tinta.

Mais proveitoso ser-lhe-ia o anonimato

Este teu companheiro fiel.

A solidão, tua amante cruel.

Por muito a tiveste cativa no peito,

Goza agora a tua liberdade,

Teu nome numa parede

Sendo aguardada a tua presença,

Saíste do poço, teu amigo.

Este cercava-te, e foi teu mentor.

Esta hora não te dará o tempo que antes te dera.

Não mereces mais.

Estais só.

Pensaste na morte?

Pense melhor!

Não esperes...

O fim.

Como antes foste ao encontro do que querias,

E agora, por que será diferente?

Terás sucesso neste amargo leito.

Faça à arte esse favor!

O ônibus passou. Perdeste a vez.

01h50min 11/09/14