O Espelho e Eu

Disse o espelho aos meus olhos:

— Olhos, sois escravos, escravos da luz, sabes bem que sem ela és inútil.

Disse meus olhos ao espelho:

— Tu és escravo da imobilidade e confidência.

ESP. — ... Diante de mim olhe bem para seu rosto

E sorria para que saibas que estas bem,

Sendo eu diante de ti o espelho

Conheço-te como ninguém.

ESP. — Sou seu mais fiel confidente,

Vejo–lhe triste ou contente

Por amares ou não a alguém.

ESP. — Frágeis fragmentos de fracassos

Foram contados ao longo dos seus passos,

Fortes fortunas se ti furtadas

Fazem falta se forem contadas.

EU. — Sou agora por um crime culpado,

Confidenciando agora à um espelho,

Um crime ainda não julgado.

EU. — Por estar ao seu lado,

Ó espelho quebrado,

Por um beijo roubado,

Sou agora culpado.

— "Para um homem se ver a si mesmo são necessário três coisas: olhos, espelho e luz. Se tem espelho e é cego, não se pode ver por falta de olhos; se tem espelhos e olhos, e é de noite, não se pode ver por falta de luz. Logo, há mister luz, há mister espelho e há mister olhos".

(Pe. Antônio Vieira)