Que o Poema Tenha Carne

Da Vencedora do Prémio Camões 2015: Hélia Correia

Que o poema tenha carne

ossos vísceras destino

que seja pedra e alarme

ou mãos sujas de menino.

Que venha corpo e amante

e de amante seja irmão

que seja urgente e instante

como um instante de pão.

Só assim será poema

só assim terá razão

só assim te vale a pena

passá-lo de mão em mão.

Que seja rua ou ternura

tempestade ou manhã clara

seja arado e aventura

fábrica terra e seara.

Que traga rugas e vinho

berços máquinas luar

que faça um barco de pinho

e deite as armas ao mar.

Só assim será poema

só assim terá razão

só assim te vale a pena

passá-lo de mão em mão.

Hélia Correia