Braços 

Braços que não dão nem recebem 
abraços. Braços lassos de tantos cansaços. 
Braços a doer, martírio de ser, de existir. 

Braços que querem partir,fugir, sumir. 
Braços, dois alforjes carregados, pelo peso 
de tudo esgotados. 

Braços a doer para além da alma. 
Todo o meu corpo dói, estremece na dor 
sem fim que se faz em mim. 

Braços a me dizer que assim não dá para viver. 
É preciso a vida repensar, parar, mudar, recomeçar. 
Não dá para se acostumar com o que nos quer derrubar. 

Deve haver uma solução, as coisas não são o que são. 
Tudo tem uma razão de ser. 
Estou onde não me pus, e fico-me a sofrer. 

O emocional desenterra aquela mulher da caverna 
capaz de matar quem dela se aproximar. Grita, 
urra de dor. Mata e come, se preciso for. 

O mental, tenta racionalizar a situação, encontrar uma 
solução, procurar uma saída para esta vida sofrida. 
Afastar a dor e procurar a paz que tanta falta me faz. 

A alma, sem luz, sem calma, é quem mais sente este 
sofrer, sabe que é imortal, que preciso me acalmar. 
Sente que estou a me perder, na ânsia de me salvar. 



Lita Moniz