Ah, Se eu tivesse apenas 1 MINUTO de vida.
(Homenagem à Carlos Drummond de Andrade)
Ah, Se eu tivesse apenas um minuto de vida.
Continuaria no compasso gauche de vida,
mais gauche que a melancolia dos anjos.
Ah, é verdade que eu fecharia essa janela num click.
Não perderia tempo calçando o sapato,
não estaria nem vendo com a ideia de quem está me vendo,
não ficaria um segundo sequer escolhendo o que satisfaz o espelho.
Ah, nem por isso me afobaria.
Não seria idiota de tentar "aproveitar a vida" que não se aproveitou em outros tantos dias.
Eu pararia. Agonia ou não.
Pararia pra notar como tudo é movimento!
Tentaria fechar os olhos e deter a realidade,
só para perceber o ar soprar a pele,
os sons do mundo, o batimento cardíaco,
perceberia enfim como é belo o fato de que não há não-percepção.
Algo se fazendo notar, como que nos seduzindo,
por fora e por dentro, um grito.
Ah, se possível, cairia bem um sorvete.
Tentaria acreditar que não escondi meus sentimentos
a gente toda que morava na ciranda da minha mente.
E eu só queria que soubessem. Se eu tivesse apenas um minuto de vida eu não me importaria. Talvez eu me sentisse mais vivo. O problema é que não vou fazer nada disso. E meu coração eventualmente vai se afogar em um amontoado de coisas não feitas, palavras nunca ditas, possibilidades perdidas, puro arrependimento. Que pena! Acho que toda a vida se resolveria se o "faria" fosse "fazendo".
No meu último minuto, eu bem que gostaria de uma pedra bem no meio do meio caminho.