a pedra
o ser humano há bastante
que não fuça a sua origem
dela faz de conta
que é além ou filosofia
e nisso tudo ela se basta.
o contorno existe ao redor da roda
mas o ser humano
tão fugido de si
trata a roda por contorno
mesmo com o interior
oco
a madeira fez casa que faz virar carvão
todo abrigo é uma perda
toda perda é um recado do repleto
é preciso o equilíbrio
uma mão sempre vazia a ter
que procurar apoio
o ser humano não coube na estrofe acima
é rodapé a ter de explicar o aflito
que existe em cada um de humano
dicionário para definir se estamos
ou se somos; temos, podemos, queremos
é tanto verbo só para conjugar o humano
há sempre um sujeito ainda que a história não tenha sujeito
o tempo depende dele, o ritmo, a precisão descritiva incorporada,
o verbo depende dele.
do sujeito.
sujeito humano.
humano ainda que seja um cão.
humano ainda que seja um gato.
humano ainda se o vento, se uma árvore, se uma estrela.
humana se lua, humana se sol.
o sujeito só não pode ser humano se humano demais
como desse concessão à obrigatória evasão dos outros,
como consentisse o estímulo à indolência, ao descapricho,
ao humano natural.
a história é o ópio de si: conte-a como quem bem quiser!
o que há da vida a fazer é contrariar ou repetir
pela voz de quem pensa que pensa e maior dos humanos pensa que é:
– aquele sujeito que apenas entende os verbos se determinantemente humanos.
até pedra no coração do peito
é humanamente pedra,
mas pedra que ninguém assume
quem quer ser pedra no caminho de Drummond?
queres tu – prevejo – ser então o primeiro da fila,
mas aceitas tu ser a primeira pedra de quem (nunca pecou) atira?
se ‘pedras que rolam não criam limbo’, as que não rolam dão em diamante
ainda assim: até as pedras são sujeitas a humano.
ostentar é ter na lista do lado esquerdo um passaporte cheio
de amigos
viajar através da amizade
é desembarcar no passado das pessoas do mundo
partir e, em vez da saudade, deixar o próximo encontro
ostentação é poder contar com os outros!
não é ter festa surpresa para si, mas é sempre se surpreender com a festa
nem ser destaque do abre-alas, mas poder ter inspiração no samba
tampouco assinar a fórmula, mas saber sempre a solução.
exibimos diamante quando o que nos fica é limbo.
mérito feito regra é um pedágio que alimenta a boca dos vampiros,
feito montanha que se desloca ao profeta,
feito pirâmide faraônica nas costas do escravo manco.
quando as pedras perdem o caráter mais humano
restam aquelas cafonices
que mostram
mais pedra
que
humano:
– conhece o papo das pedras no caminho
aquelas que se transformam em castelo?
no plano ideal dos dias,
um corpo parado é um sujeito inerte,
ou o sujeito caído é um verso oculto.
acontece que pouquíssima gente não se dá conta disso.