A duas estrofes do fim

Enfim entrelaçados, o horizonte da vida e o precipício da morte

Tão frio e impiedoso sussurrava o tempo no sopro da madrugada

É o fim, é o fim, do que foi andante, inerte agora, fim da jornada

Foi-se o poeta: sem versos, sem dor, sem dó, sem passaporte

Quando o aço da morte ceifou a carne vivente e estampou seu corte

Marcavam nas parafernálias do homem duas horas da agonia

Quando as cortinas da realidade definidamente selaram tua fantasia

Só Deus te valha, no pesar mais denso, desta relativa pouca sorte

Na epiderme do mundo ulcerações flamejantes de um verso finado

Finalizado a duas estrofes do fim, na esquina tardia da juventude

Pobre poeta, soterrado em rimas nobres, aplacado nas vicissitudes

Não te viram, mal te leram, sequer o aplaudiram neste inócuo legado

Doou-se aos seus lápis bailarinos, nos tilintares vertiginosos de tua mão

Por ti, entremearam-se no papel, as rimas da vida às crônicas da morte

Nas acauãs penosas, na brasa dos arrebóis, na palidez da lua norte

Quando praguejaste o mundo e bendisseste as estrelas, cultivaste redenção.

De verso em verso mostrou-se reverso a todas as formalidades da vida

Abdicou a realidade em prol da pseudoverdade versada nas atribulações

Perambulou andarilho nos corações platônicos, nas sofreguidões da lida

Enfim, fartou-se o poeta das utopias banais e rimou às constelações.

Carlos Roberto Felix Viana

CarlosViana
Enviado por CarlosViana em 19/11/2014
Reeditado em 04/06/2015
Código do texto: T5041216
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