A duas estrofes do fim
Enfim entrelaçados, o horizonte da vida e o precipício da morte
Tão frio e impiedoso sussurrava o tempo no sopro da madrugada
É o fim, é o fim, do que foi andante, inerte agora, fim da jornada
Foi-se o poeta: sem versos, sem dor, sem dó, sem passaporte
Quando o aço da morte ceifou a carne vivente e estampou seu corte
Marcavam nas parafernálias do homem duas horas da agonia
Quando as cortinas da realidade definidamente selaram tua fantasia
Só Deus te valha, no pesar mais denso, desta relativa pouca sorte
Na epiderme do mundo ulcerações flamejantes de um verso finado
Finalizado a duas estrofes do fim, na esquina tardia da juventude
Pobre poeta, soterrado em rimas nobres, aplacado nas vicissitudes
Não te viram, mal te leram, sequer o aplaudiram neste inócuo legado
Doou-se aos seus lápis bailarinos, nos tilintares vertiginosos de tua mão
Por ti, entremearam-se no papel, as rimas da vida às crônicas da morte
Nas acauãs penosas, na brasa dos arrebóis, na palidez da lua norte
Quando praguejaste o mundo e bendisseste as estrelas, cultivaste redenção.
De verso em verso mostrou-se reverso a todas as formalidades da vida
Abdicou a realidade em prol da pseudoverdade versada nas atribulações
Perambulou andarilho nos corações platônicos, nas sofreguidões da lida
Enfim, fartou-se o poeta das utopias banais e rimou às constelações.
Carlos Roberto Felix Viana