LOUCURA NECESSÁRIA

Se o discurso que podemos

É uma floresta,

Os loucos falam por pétalas.

Se desejamos bom dia é porque

Chamamos cedo,

Os loucos dizem: a noite mal terminou!

O bom moço cumpre as horas

A distinta menina nunca tarda

Os loucos sopram areia de ampulheta.

A boa filha morará em apartamento

O bom filho a casa comercializa

Os loucos ocupam a caverna do mar da gente.

Um dia estou com fome

N’outro dia tenho sede

Quando é tempo fecho o vidro

Se faz sonho eu rio inteiro

Mas o louco não faz gênero

O louco é um poço de si

O louco disse nunca ter-me visto antes

O louco jamais falou comigo agora

É bem óbvio estar bastante

Preenchido de vazios

Ou de enclaves da opulência.

Vi aqui que é ver navio

Acende o fio quem não tem chance

O alcance da alavanca: penteia-se todo de medo,

Cobre com pó e sombra e lápis: a máscara do acaso,

Veste os filhos com o pudor de Antonieta,

Paga o veículo com a prestação do mês passado,

É bem óbvio estar por dentro

Repleto de itinerários.

Eis aí que invejo o louco

Impreciso e anti-cadente

É bem óbvio que ali nada é bem óbvio

Nem bem nem pouco

Certamente foi um desses

Que inventou aquilo que deveríamos

Ter chamado humanidade.