Autorretrato

Lágrima que dimana no rosto do Infinito,
não sei desenhar quem sou...
 
Talvez seja apenas o grito surgido
ao derradeiro gorjeio de ave fulminada
pelos horrores do macabro humano,
ou o silenciar do sonho feminil,
que irrefletido cai das árvores
e fenece no lábio virgem de sorriso...
 
Serei talvez o olhar denegrido
da fêmea que silencia o passado
na agrura do presente,
ou a garganta esmagada
pela joia de ferro
que embeleza e execra...
 
O grito... um grito...
da árvore que tomba,
da alma natimorta,
do perigo
ou da injúria...
 
Um grito... o grito...
que se faz nascer
sem vagido,
na surdez dos calvários
em pecado...
 
Sem face definida,
nem voz esquadrinhada na beleza
de quem se ergue e reluz,
serei, quem sabe, o urro do verde corrompível,
que cinge concupiscente o meu corpo
às tranças assustosas dos cabelos...
 
Sem o sexo dos anjos,
nem a luz da manhã
que transforma e recria,
meu autorretrato quer ser Amor
e finda por ser a Dor – celha cerrada -
na raiz profunda do Universo...
 
Lágrima que dimana no rosto do Infinito,
não sei desenhar quem sou...
 

Sílvia Mota a Poeta e Escritora do Amor e da Paz
Rio de Janeiro, 19 de setembro de 2014 – 17h37
Imagem: "Autorretrato com trança" Frida Kahlo
Sílvia Mota a Poeta e Escritora do Amor e da Paz
Enviado por Sílvia Mota a Poeta e Escritora do Amor e da Paz em 23/09/2014
Reeditado em 26/08/2021
Código do texto: T4972592
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