O EU ESCONDIDO
Carrego comigo
as marcas da vida
em cada gesto
despretensioso.
Cada vez que aceno
a um amigo,
que vejo ao longe,
digo mais de mim mesmo,
que num depoimento
tomado na madrugada,
sem a presença de advogado,
em delegacia policial.
Se querem saber quem sou,
olhem-me, na cozinha,
cortando temperos;
tomando um café,
tinto, de tão forte;
escolhendo uma gravata
desencontrada,
para usar com uma camisa
de manga curta,
meio amarrotada;
ou andando pela ruas
da minha cidade,
admirando prédios
abandonados,
perseguindo pessoas
com meu olhar fotográfico,
imaginando-lhes os sonhos,
invadindo sus inquietações.
E não prestem atenção
ao sentido aparente
do que digo ou escrevo,
pois escondo-me dentro
das palavras
feito caramujo africano
em sua concha dura,
quase inquebrável.
- Em 10/08/2014, por José Luiz de Sousa Santos, o JL Semeador de Poesias, também o poeta austríaco Hans Gustav Gaus; quem sabe, tão somente o Zico, como me chamava meu pai -