Enfrentamento

Canta em meu peito, silenciosamente,

Um poeta de outro tempo

Um amor, uma canção inalcançáveis

E aqui, da distância infinita,

Outro ser que o compreende,

Que o foi, o contempla e se comove

Com a dor de seus versos,

Com a sentida voz do olhar vago, tão fixo...

Assim como se fosse um chamado,

Como se houvesse uma certeza,

Como se tudo fosse apenas distâncias

Que apenas o sentimento pudesse vencer...

O sentir na mensagem etérea do poeta etéreo,

Imponderáveis...

E eu, eu que o conheço, me achego,

E me ponho perto, bem perto, e até o toco,

Toco seu rosto, seu coração com o meu coração,

E decifro a substância de suas lágrimas,

E o compreendo, profundamente o sou,

Pois o fui, e o que fui, nesse impossível contacto,

Nesse encontro assim perto, assim tão longe,

Eu o passo a ser aqui,

Aqui agora, dentro de mim, o poeta que fui

Canta, e então o esquecido toma força,

E renasço, eu mesmo, aquele, e este de agora,

Numa cópula etérea, num lance de agonia, num abraço vazio de matéria,

A me redefinir, a me reunir comigo mesmo,

Como a alegria que é choro, e vice-versa,

Ou o aniquilamento que é o ressurgir...

Canta em meu peito, silenciosamente,

Um poeta de outro tempo, aqui, agora...

Sebastião Alves da Silva
Enviado por Sebastião Alves da Silva em 27/06/2014
Reeditado em 27/06/2014
Código do texto: T4860609
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