Enfrentamento
Canta em meu peito, silenciosamente,
Um poeta de outro tempo
Um amor, uma canção inalcançáveis
E aqui, da distância infinita,
Outro ser que o compreende,
Que o foi, o contempla e se comove
Com a dor de seus versos,
Com a sentida voz do olhar vago, tão fixo...
Assim como se fosse um chamado,
Como se houvesse uma certeza,
Como se tudo fosse apenas distâncias
Que apenas o sentimento pudesse vencer...
O sentir na mensagem etérea do poeta etéreo,
Imponderáveis...
E eu, eu que o conheço, me achego,
E me ponho perto, bem perto, e até o toco,
Toco seu rosto, seu coração com o meu coração,
E decifro a substância de suas lágrimas,
E o compreendo, profundamente o sou,
Pois o fui, e o que fui, nesse impossível contacto,
Nesse encontro assim perto, assim tão longe,
Eu o passo a ser aqui,
Aqui agora, dentro de mim, o poeta que fui
Canta, e então o esquecido toma força,
E renasço, eu mesmo, aquele, e este de agora,
Numa cópula etérea, num lance de agonia, num abraço vazio de matéria,
A me redefinir, a me reunir comigo mesmo,
Como a alegria que é choro, e vice-versa,
Ou o aniquilamento que é o ressurgir...
Canta em meu peito, silenciosamente,
Um poeta de outro tempo, aqui, agora...