Epopeia no Paraíso

I

Sul da Lagoa dos Patos,

Na direção do Uruguai

Nos banhados, pastiçais,

Coxilhas, capões de matos

Há centenas de animais

No extenso tranquilo e vasto

Farto capim de bom pasto

Dos verdes Campos Neutrais.

II

As aves fazem revoadas,

Manadas em profusão

Ao longe pastando vão,

Nas vastidões encharcadas

Corre esperto graxaim,

A lebre foge do sorro

Um quero-quero em socorro

Acorda todo o Taim.

III

Alguns correm outros somem,

Se aparece um predador

Ao sol intenso calor,

Eis que surge o bicho-homem

Vem lá de trás das coxilhas,

Com cipó bem resistente

Bugre exímio, inteligente,

Vai preparando armadilhas.

IV

Monta mundéus e pealos

Para alguns bichos caçar

Quer a tribo alimentar,

Sem no entanto exterminá-los

As nuvens correm no céu,

Nas campinas corre o homem

Depois que a caça comem,

Esquecem corda e mundéu.

V

Um que outro índio charrua

Passava os dias caçando

Só o silêncio quebrando,

Mas tudo igual continua

Alguns bichos que dão coice,

Não se consegue montá-los

Não existiam cavalos,

Distante este tempo foi-se.

VI

Céu de estrelas, novas luzes,

Depois do frio, primavera.

Nessa nova atmosfera,

Retornam as avestruzes

Novos ovos vão chocar,

Dias, noites, madrugadas.

Surgirão grandes manadas,

Quando a chuva retornar.

VII

Forte inverno traz rigores,

Depois volta o tempo bom

Parece que muda o tom,

Quando brilham novas cores

Neste campo colossal,

Tem paca, tatu e lagarto.

As fêmeas vão tendo parto,

No paraíso animal.

VIII

A natureza observa

O vento minuano vindo

Bom tempo retorna lindo,

Céu clareia a verde relva

Vê-se horizonte à distância,

Leite, mel e água pura

A terra produz fartura,

Há vida em abundância.

IX

Nos vastos Campos Neutrais,

Tinha a terra as suas leis

Sem donos, cercas, nem reis,

Liberdade aos animais

Então estranha figura

Aparece no horizonte

Passa sanga, sobe monte,

Vira o dia noite escura.

X

Nesse dia tudo muda,

Bicharada corre e grita

A campanha fica aflita,

O Taim suplica ajuda

O paraíso se estanca,

Deixa de ser o que era

Porque chega a maior fera:

O homem de pele branca.

Aquinosul
Enviado por Aquinosul em 02/06/2014
Reeditado em 03/06/2014
Código do texto: T4829075
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