Racista e mão-de-vaca

O negro-velho João

Contava e dava risada

Um causo pra peonada

De um tal maldoso patrão

Que maltratava o peão

Que tivesse pele escura

Além do mais, pela usura

Mal pagava algum tostão.

Muito apegado ao dinheiro

Nenhum valor para o pobre

Escassa atitude nobre

Por demais, interesseiro

Reconhecido festeiro.

No inverno, o negro no frio

Patrão de férias, no Rio

Por um semestre inteiro.

O gado crescia na estância

Enquanto o João trabalhava

O tal patrão mais ganhava

Vivendo na arrogância

Não havia tolerância

Para erro de ninguém

Mas ele errava também

Coberto de ignorância.

Seu filho de plena idade

Foi estudar Belas Artes

Vamos contando por partes

Falavam que na verdade

Ouviu-se pela cidade

Todo mundo desconfiava

Que o guri desmunhecava

Dentro da Universidade

Conto um pouco do que sinto

Da fazenda e da família

Havia também a filha

Pra rico, moço distinto

Pois é verdade, não minto

Que era moça mui bonita

Nunca saindo solita

Lhe trouxe um neto retinto.

Isto foi dura lição

Pro racista, mão-de-vaca

Não valeu meia-pataca

Nem teve bom coração

Sendo vazio de emoção

Deu mais valor à riqueza

Não via n’alma beleza

Virou pó naquele chão.

No galpão, pra peonada

Perguntava o velho João:

“Sabem quem virou patrão

Dono de toda boiada? ...

Contando, parece piada

Mas, é verdade, meu amigo!

Um neguinho, parecido comigo!”

João contava... E dava risada.

Aquinosul
Enviado por Aquinosul em 28/05/2014
Código do texto: T4823070
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2014. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.